quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Pra não dizer que não falei de Rosas


A moça, sempre em seu vestido azul e sujo de terra, cuidava das roseiras. Por que havia roseiras ali? Havia tempos que o dono daquele jardim havia perdido a sua rosa. Mas havia roseiras e alguém precisava cuidar delas.
O homem tinha um jardim, mas nunca passeava por ele. O jardim era belo, mas para o homem também era triste.
Ele observava de longe a moça cuidar das roseiras. Ela escolheu a rosa mais bonita para enfeitar seus cabelos. O homem se aproximou observando a roseira apreensivo.
- Rosas. As rosas tem espinhos.
- É só saber como lidar com elas. - a moça respondeu tímida.
- E elas brigam com os cravos.
A moça não entendeu bem o comentário, mas respondeu:
- Elas tem motivo.
- Mas os cravos são bons.
- Nem sempre
- Depois ficam se despedaçando por aí.
- Elas se recuperam. - a moça sorriu acariciando a rosa envolvida em seus cabelos.
- Mas os espinhos continuam. - disse o homem num tom melancólico.
- É uma forma de proteção.
- Contra o quê? Quem faria mal a uma rosa?
- Existem perigos por aí, as rosas tem que aprender a se cuidar sozinhas. - enquanto falava a jardineira ia regando a roseira com graça.
- Se eu tivesse uma rosa a colocaria numa redoma. - o homem suspirou fitando a rosa entre os cachos da menina.
- Ela não seria feliz assim.
- Mas estaria protegida dos insetos e da tempestade.
- Rosas são livres.
- Existe um principezinho que possui uma rosa numa redoma e ela é feliz com ele.
- Nem todas as rosas possuem um principezinho.
- E nem todos os principezinhos possuem uma rosa. - o homem lançou um olhar vazio para o horizonte, como quem se lembra de algo a muito tempo já esquecido.
- Mesmo um principezinho um dia abandona a sua rosa.
- O principezinho abandona só um pouco, para conhecer o mundo. Mas logo ele volta gostando ainda mais da rosa.
- Pouco tempo para um príncipe pode ser muito tempo para uma rosa.
- Mas o príncipe é solitário em seu planeta. Ele precisa viajar para conhecer o universo. - o homem foi ficando envergonhado.
- A rosa também é solitária e não pode viajar pois está presa numa redoma. - a moça havia parado de regar a roseira e agora encarava o homem firmemente nos olhos.
- Mas a rosa está protegida na redoma. - o homem encarou o chão.
- Protegida e solitária. Ela já tem a proteção dos espinhos.
- Ela não precisaria dos espinhos. Não há perigos no planeta do principezinho. è tão pequenininho.
- Mas rosas não se contentam com pouco.
- Mas as rosas são tão amadas.
- Amor que aprisiona não é amor
- Mas o principezinho não sabe disso. A rosa precisa ensiná-lo.
- Ela tenta, mas não consegue fazer isso presa.
- Acho que ela precisa se libertar. - murmurou o homem, mais para si que para a moça.
- Ela já fez isso. Quando o principezinho partiu.
- E o que ela fez?
- Descobriu que é melhor viver sozinha que viver uma ilusão.
- O prícipe sabe que a sua rosa é independente?
- Ele demorou pra voltar. Descobriu sozinho.
O homem parou um minuto e o olhou a jardineira em silêncio. Ela correspondia o olhar com curiosidade. Ele pousou seus olhos na rosa enroscada nos cabelos da moça.
- É dificil achar uma rosa com tanta personalidade, que sabe bem o que quer.
- Todas sabem, mas não demonstram. - Ela sorria com os olhos.
- Algumas gostam da redoma.
A menina sorriu e se aproximou, beijou a face do homem, já um pouco marcada pelo tempo e meio úmida, talvez de lágrimas.
- Só as que ainda não conhecem a liberdade.
Aquilo soou doce nos ouvidos do homem. A jardineira se afastou e correu. Correu pelo jardim feito uma criança. O vento batendo nos cabelos apanhou a rosa que ali estava agarrada e carregou-a flutuante até as mãos do homem. Ele segurou a rosa delicadamente e vendo a jardineira se afastar,uma menininha entre as flores, pensou "acho que reencontrei minha rosa".

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