quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Rendição

Agora para me redimir faço dois posts de uma vez, fiquei tanto tempo longe daqui, não é?
Escrevi de novo um poema que não é meu, eu pelo menos não da minha parte consciente, não sei o que significa, nem me perguntem. Também não tem título, talvez eu dia eu reúna todos os meus poemas e contos e entitule todos eles (entitule, que raio de palavra estranha), mas hoje não. Então lá vai.

Eu me lembro como se fosse ontem
Do beijo que nunca aconteceu
Das suas mãos que nunca me tocaram
De alguém que não era eu.

Haviam cores disformes
Haviam vozes sussurradas
Uma aquarela de sabores
Palavras silenciadas.

De um pequeno paradoxo
Estamos à mercê
E o culpado disso tudo sou eu?
É você?

Eu esqueci quem eu era
Por um curto período de tempo
Já chorei, já sorri, já senti
Agora sou apenas vento.

Voe! Voe! Vá sem mim!
Não devo te prender mais
Quem sabe um dia não te acompanho?
Mas hoje, aqui é o meu lugar.
(sem título)



(Esse diabo das rimas pobres!)

Mais uma daquelas em que não sei o que dizer.

Eu não sei o que dizer, não sei como começar, só sei que hoje fiquei com uma vontade louca de escrever não sei nem o quê. E sempre foi assim, escrevo pra extravasar, e tudo aquilo que não posso dizer em voz alta, escrevo. E se alguém ler? No fundo, no fundo eu acho que quero mesmo é que seja lido.
Ouvi em uma aula de literatura um poema que mexeu comigo, aliás, muitas coisas andam mexendo comigo ultimamente. Mas a interpretação do meu professor ajudou o poema a ser ainda mais enfático. Queria postar aqui.

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
(Lisbon Revisited - Álvaro de Campos)