sexta-feira, 30 de julho de 2010

Da melancolia

Estou cansada. Fisicamente, emocionalmente, psicologicamente e todos os outros advérbios de modo que puder imaginar. Não consigo pensar em nada melhor pra escrever, aliás isso vem acontecendo a algum tempo.

Hoje achei uma coletânea do Mário Quintana perdida no meio da bagunça do meu quarto, já li e reli aquele livro um milhão de vezes, às vezes abro só pra ler um poema em especial, um que já conheço, que já sei de cor. Outras vezes abro uma página aleatóriamente e leio o que tiver nela. De qualquer forma me sinto bem depois. Também gosto de olhar a contra capa. Há nela uma foto em preto e branco e meia amarelada de um velhinho simpático com olhos serenos e cara de quem nunca se abala, parece um avozinho esperando a sua neta chegar da escola para lhe contar histórias inventadas. A menininha vai olhá-lo com um brilhinho nos olhos e perguntar: "é verdade vovô?" e ele dirá: "Sim, é verdade, eu vi, eu estava lá." O velhinho não estará mentindo, ele estava lá. Nos sonhos.


Olho o mapa da cidade
Como que examinasse
A anatomia de um corpo...

(É nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Desde já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

(O mapa - Mario Quintana)

Nenhum comentário:

Postar um comentário